quinta-feira, 15 de março de 2012

~ Capítulo 2 ~ João, o Escultor



 Há muito tempo aconteceu uma coisa interessante e até engraçada que mudou pra sempre o modo como as pessoas viam as coisas. Em um tempo em que as pessoas ou só podiam ser reis, ou só podiam venerar quem era rei (isso, aliás, era uma obrigação), existiu um sujeito que morava numa distante casa e salvo quando tinha que ir ao vilarejo em busca de alguns mantimentos, vivia praticamente isolado e solitário.

E era feliz! Era feliz pois todo tempo lhe era tomado pela sua grande paixão, que era fazer esculturas de barro. Inclusive sua casa foi feita com as próprias mãos, do jeito que ele queria, diferente das outras, pois naquela época as casas eram todas de palha e madeira. Mas ele fazia muitas
coisas que usava como moeda de troca no vilarejo. Por exemplo, havia uma senhora que gostava muito de gatos, mas por algum motivo, eles começarama desaparecer. Desesperada, a pobre senhora contou essa história ao escultor, que por acaso se chamava João. João então teve uma idéia e disse que em uma semana voltaria com a solução pra o problema dos gatinhos fugitivos. Uma semana se passou e ele voltou com 6 gatinhos feitos de barro, em
diferentes poses. Agora ela poderia deixá-los pela casa sem se preocupar que fugissem ou morressem e a senhora, claro, adorou.
Logo João e suas esculturas começaram a ficar famosos e todos vinham de longe para ver seus trabalhos. Um senhor que queria muito uma filha e nunca tinha conseguido, sendo então muito velho, pediu que ele esculpisse uma bela moça, para assim ter seu sonho realizado. Inclusive tempos depois, sabendo da história, uma senhora que também sonhava em ter um filho, encomendou a estátua de um jovem rapaz. Não foi surpresa quando alguns meses mais tarde, as duas estátuas se apaixonaram e tiveram um lindo jarrinho de porcelana. A fama de João corria solta.
Correu tanto e chegou longe, nos ouvidos de Leréia, uma rainha que não era tão má como nas outras histórias, mas muito chata e cheia de frescuras, então de qualquer forma ninguém gostava dela. Ela queria belas estátuas para seu palácio e João seria o encarregado. O escultor foi levado para um belo palácio e começou a fazer várias esculturas: gatos, cachorros, tigres, rinocerontes, elefantes e seus últimos trabalhos foram uma estátua do rei e da rainha. Depois de pronta, o Rei adorou, disse que lhe daria o quanto ele desejasse e se quisesse poderia viver com eles no castelo. Mas a rainha não tão má, mas muito chatinha, detestou a escultura. Acontece que João fez a estátua gordinha, de sobrancelhas grandes e um nariz um pouco avantajado, tal qual a Rainha Leréia era. Ela queria ter sido feita com seios fartos, cintura fina e um metro de oitenta de altura, quando na verdade só tinha pouco mais que um metro e trinta.

De chata que era, ordenou que João fosse enforcado, ainda que a contragosto do rei. As pessoas não gostaram nada daquilo e como protesto, não foram assistir ao enforcamento. Foi um dia triste, ainda mais porque ninguém podia fazer nada contra a rainha chata, que só era mais chata porque tinha poder. Nunca mais foram vistas belas esculturas por aquele reino.
Algum tempo se passou, mas João não foi esquecido. Após ser enforcado, João foi para o céu. Chegando lá, arrumou um emprego, afinal no paraíso você não passa o dia tocando harpa, a menos que você seja músico, é claro. João era escultor de nuvens. Desde então, as pessoas daquele reino começaram a reparar no céu e ver como algumas nuvens se pareciam com animais, com pessoas, com ventiladores e tudo isso era obra de João, o escultor. Desse dia até hoje, as nuvens que vemos com aquelas formas, são todas obras dele.

Todos podiam ver e se maravilhar com as esculturas do artesão no céu, inclusive a Rainha Leréia. Um dia em especial, uma terça de tarde, quando ela tinha parado para olhar aquelas formas no céu com o seu esposo, o Rei, percebeu que uma nuvem estava ganhando uma forma diferente, familiar. Aos poucos os traços foram aparecendo, os seios fartos, alta, cintura fina, longos cabelos e a rainha toda envaidecida com aquele presente dos céus, falou "Olhe meu amado Rei, aquela nuvem lá em cima! Sou eu! Veja, até o rosto é igual! Como sou bela! E agora o mundo inteiro está vendo o tamanho da minha beleza! Eu quero aquela nuvem para mim!" E começou a bradar para os céus "Você que está fazendo essas esculturas no céu!Seja meu súdito. Lhe darei o que quiser."
 
 Imediatamente a nuvem em forma de Rainha Leréia começou a mudar o rosto, parecendo que estava se abrindo em um largo sorriso. A rainha começou a ficar muito feliz, mas as coisas nem sempre são o que parecem. De sorriso, a nuvem começou a torcer o rosto, como se tivesse provado alguma coisa muito ruim e rapidamente uma  grande língua se desenhou, junto com uma careta, encarando a rainha Leréia direto nos olhos. Todos no reino caíram na gargalhada, inclusive o Rei, pois sabiam da chatice da rainha e que ela devia ter ficado fula com aquilo e de fato ficou.
No céu, os que olhavam da terra não o sabiam, mas João estava rolando no chão, às gargalhadas

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