sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

~ Capítulo 4 ~ O Truque da Bexiga




Quando você olha pra algo muito diferente, sua cabeça leva um pequeno choque e tenta pegar aquela coisa tão incomum e organizá-la junto das coisas que você já conhece,ou pelo menos da coisa mais parecida possível. Com o tempo, aquilo que era esquisito acaba achando seu lugar, até que apareça a próxima coisa esquisita. Com todo mundo é assim. Inclusive com Tiago.

Tiago tinha cerca de 12 anos, não gostava de usar calças compridas, gostava de bolas de gude e no lugar onde deveria estar sua cabeça havia um balão. Isso, uma bexiga. Amarela ainda por cima. Como pra toda criança, a vida de Tiago não tinha sido fácil até ali. As pessoas o recebiam
com certa rejeição, contudo depois se acostumavam com aquela bola amarela, oscilando com as pequenas brisas. Para Tiago era mais esquisito ainda, pois não era parecido com ninguém da família mas mesmo assim, ele não sentia-se triste ou algo parecido. Sentia apenas que não era igual.

Ele não falava, claro, mas era inteligentíssimo. Na escola, sofria perseguição dos seus colegas que corriam atrás dele com pregos e objetos pontudos para assustá-lo. Ele ficava morrendo de medo, mas sabe como é criança, acabava deixando para lá. Ele mesmo aprendeu a se defender, quando um dia para assustar a todos, desenhou um rosto de ponta à cabeça na própria cabeça, ou seja, na bexiga. Quão grande foi o susto quando começou a correr atrás dos seus colegas no pátio e todos os que metiam medo nele, agora corriam de pavor diante daquela visão. Um deles até mijou nas calças. Isso rendeu uma baita  reclamação na diretoria mas quem podia culpá-lo? Até a diretora falava com ele com certo medo. Mandou ele lavar o rosto e apagar aquilo da...han...da cara.
 Tiago também gostava muito de mágicas. Seu ídolo era o grande mágico Houdini. Foi numa Feira de Ciências da escola onde fez sua grande mágica. Dias antes, se mostrava muito empolgado com toda aquela história. Tinha desenhado cartazes da sua apresentação na tal Feira, ficava trancado horas no quarto, lendo e relendo livros sobre grandes proezas mágicas.

Chegado o dia da Feira de Ciências, todos os alunos exibiam seus projetos com orgulho e Tiago, metodicamente em cima de um grande caixote, esperava às 16 horas, hora da sua apresentação e quando ela enfim chegou, não decepcionou ninguém. Os outros projetos já tinham encerrado e Tiago, com uma capa maior que ele, que arrastava no chão, fazia sinal chamando as pessoas mas também pedindo espaço. 
Se curvou, agradeceu à todos e com um movimento rápido das mãos, fez confetes voarem. Todos aplaudiram. Em seguida preparou-se para aquilo que levara dias lendo e estudando sobre. Pegou um caixote menor do que aquele que já estava em cima, subiu, abriu os braços e teatralmente jogando a capa para trás, deu um grande pulo em direção ao seu público, que recuou assustado.

Porém nada chegou no público senão uma camiseta, uma capa, uma bermuda e um par de sapatos. Quando deram por si, um balão amarelo subia no céu, indo pra um lado e pro outro, levado pelo vento até sumir diante do silêncio da platéia boquiaberta. E quem sabe onde esse menino foi parar?

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