quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Um Mês com Montalbano ~ Andrea Camilleri


(as ilustrações dos livros da Coleção Negra ficam por conta de Lelis)

Um mês com Salvo Montalbano é o que você precisa. Não, menos, bem menos que isso, um mês é muito, experimente um único capítulo que seja na companhia do comissário e aí vocês vão entender o que quero dizer.

Tenho uma predileção grande por romances policiais e de mistério, casos mirabolantes: Agatha Christie, Simeon, Sydney Sheldon, Conan Doyle, Raymond Chandler, Maurice Leblanc, todos contaram histórias fantásticas de prender a respiração até a última página, com sua trama emaranhada e bem construída pra no final esclarecer o mistério até então impossível e insolúvel.

Mas com Andrea Camilleri, autor e criador do comissário Montalbano, tive uma impressão completamente diferente. Não entendam como demérito, já li 14 livros dele e pouco lembro da trama e como tudo se desenrolava, contudo lembro de todos os personagens que criou! Ele tem livros com tramas simplórias e rasas? De jeito nenhum! Contudo alguns casos não passam de brigas de famílias, como os Sinagra e os Cuffaro por exemplo, família de mafiosos italianos que mantém a honra e só matam um da família adversária por vez, logo é a vez da outra.

E é aí que Camilleri ganha destaque pra mim ao trabalhar os personagens como nenhum outro autor desse gênero. Mesmo Salvo não sendo o tipo de pessoa que faz amizade facilmente, você pensa que queria ter ele como amigo. Chega a tremer as pernas imaginando o grito que ele vai dar em Catarella por ter, pela milésima vez aberto a porta de supetão e quebrado um pedaço do reboco da parede: "Me adescurpe dotô. A porta descapuliu da mão". Ou ainda se impacientar com a mania de Registro Civil do seu imediato Faso, que descreve toda a filiação do sujeito antes de mais nada, para o horror de Montalbano. Ou Gallo e Galluzo, os motoristas do comissariado que mais parecem pilotos de fórmula um pelas ruas de Vigàta.

Grande parte dos livros com histórias do comissário refletem um lado político e até histórico na Itália, onde lei e crime convivem quase que "pacificamente", se ajudam em interesses, máfia e polícia. Tudo muito bem amarrado, bem escrito e sério, divertidíssimo. Que leitura boa! Que entra aqui meus parabéns à tradução de Angélica D'Ávila que pelo visto ficou encarregada de todos os livros de Camilleri.

Comecei com o livro O CÃO DE TERRACOTA, comprei pelo nome e pela sinopse, não conhecia, resolvi dar uma chance e daí em diante foi um livro atrás do outro. Mostrei a Caroline que prontamente se viu tão encantada quanto eu. Se você quiser começar por algum livro do Andrea Camilleri, recomendo o que sugeri no título: UM MÊS COM MONTALBANO. Depois dele é quase certo que vai querer saber como foi o ANO NOVO DE MONTALBANO ou mesmo A PRIMEIRA INVESTIGAÇÃO DE MONTALBANO.  Depois de lê-los, passei muito tempo sem querer ler outra coisa pois saberia que não seria igual, foi o jeito me conformar.

Faz quase 1 ano que li o último livro, mas sempre que lembro dos títulos, me vem a lembrança de cheiro do mar, salmonetes da trattoria San Callogero, bem como as merluzas temperadas. Taí outro grande mérito do autor: lembrar que cada local descrito tem um cheiro próprio, suas características. Lembrar que ao ver livro tal, tem "cheiro" disso ou daquilo como se estivesse visitando um lugar muito conhecido por mim sem nunca tê-lo visto.

Se gosta de romances policiais, não deixe de ler, sério. O problema é saber que depois nada vai ser igual. Poderia falar muito mais do comissário, mas não quero estragar sua viagem à ilha de Montelusa. Chegue sem pretensões e logo você vai estar enturmado no comissariado. E cuidado com a porta!

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