(as ilustrações dos livros da Coleção Negra ficam por conta de Lelis)
Um mês com Salvo Montalbano é o que você
precisa. Não, menos, bem menos que isso, um mês é muito, experimente um
único capítulo que seja na companhia do comissário e aí vocês vão
entender o que quero dizer.
Tenho uma predileção grande por romances policiais e de mistério, casos
mirabolantes: Agatha Christie, Simeon, Sydney Sheldon, Conan Doyle,
Raymond Chandler, Maurice Leblanc, todos contaram histórias fantásticas
de prender a respiração até a última página, com sua trama emaranhada e
bem construída pra no final esclarecer o mistério até então impossível e
insolúvel.
Mas com Andrea Camilleri, autor e criador do
comissário Montalbano, tive uma impressão completamente diferente. Não
entendam como demérito, já li 14 livros dele e pouco lembro da trama e
como tudo se desenrolava, contudo lembro de todos os personagens que
criou! Ele tem livros com tramas simplórias e rasas? De jeito nenhum!
Contudo alguns casos não passam de brigas de famílias, como os Sinagra e
os Cuffaro por exemplo, família de mafiosos italianos que mantém a
honra e só matam um da família adversária por vez, logo é a vez da
outra.
E é aí que Camilleri ganha destaque pra mim ao trabalhar
os personagens como nenhum outro autor desse gênero. Mesmo Salvo não
sendo o tipo de pessoa que faz amizade facilmente, você pensa que queria
ter ele como amigo. Chega a tremer as pernas imaginando o grito que ele
vai dar em Catarella por ter, pela milésima vez aberto a porta de
supetão e quebrado um pedaço do reboco da parede: "Me adescurpe dotô. A
porta descapuliu da mão". Ou ainda se impacientar com a mania de
Registro Civil do seu imediato Faso, que descreve toda a filiação do
sujeito antes de mais nada, para o horror de Montalbano. Ou Gallo e
Galluzo, os motoristas do comissariado que mais parecem pilotos de
fórmula um pelas ruas de Vigàta.
Grande parte dos livros com
histórias do comissário refletem um lado político e até histórico na
Itália, onde lei e crime convivem quase que "pacificamente", se ajudam
em interesses, máfia e polícia. Tudo muito bem amarrado, bem escrito e
sério, divertidíssimo. Que leitura boa! Que entra aqui meus parabéns à
tradução de Angélica D'Ávila que pelo visto ficou encarregada de todos
os livros de Camilleri.
Comecei com o livro O CÃO DE TERRACOTA,
comprei pelo nome e pela sinopse, não conhecia, resolvi dar uma chance e
daí em diante foi um livro atrás do outro. Mostrei a Caroline
que prontamente se viu tão encantada quanto eu. Se você quiser começar
por algum livro do Andrea Camilleri, recomendo o que sugeri no título:
UM MÊS COM MONTALBANO. Depois dele é quase certo que vai querer saber
como foi o ANO NOVO DE MONTALBANO ou mesmo A PRIMEIRA INVESTIGAÇÃO DE
MONTALBANO. Depois de lê-los, passei muito
tempo sem querer ler outra coisa pois saberia que não seria igual, foi o
jeito me conformar.
Faz quase 1 ano que li o último livro, mas
sempre que lembro dos títulos, me vem a lembrança de cheiro do mar,
salmonetes da trattoria San Callogero, bem como as merluzas temperadas.
Taí outro grande mérito do autor: lembrar que cada local descrito tem um
cheiro próprio, suas características. Lembrar que ao ver livro tal, tem
"cheiro" disso ou daquilo como se estivesse visitando um lugar muito
conhecido por mim sem nunca tê-lo visto.
Se gosta de romances
policiais, não deixe de ler, sério. O problema é saber que depois nada
vai ser igual. Poderia falar muito mais do comissário, mas não quero
estragar sua viagem à ilha de Montelusa. Chegue sem pretensões e logo
você vai estar enturmado no comissariado. E cuidado com a porta!
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