quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Pinóquio ~ Winshluss


Detesto citar lugares comuns, mas é um vício. Que posso fazer se um bom quadrinho, às vezes, vale mais que milhares de palavras? Quando peguei o livro PINÓQUIO nas mãos, não sabia o que esperar, mas de cara parecia vir algo bom dali, afinal a capa é belíssima, com o nome do personagem de Carlo Collodi escrito no estilo de grafites urbanos, com desenhos mesclados como estilosas tatuagens dos anos 50-60.

Esse Pinóquio é retratado um pouco diferente. Na verdade o foco não é no pinóquio, é no mundo que o cerca. Geppeto, um cientista desempregado dá vida a sua criação máxima, um robô do tamanho de um menino, chamado Pinóquio. Ao ver o sucesso da sua empreitada, a ambição já brota nos seus olhos e ele sai de casa determinado a vender seu projeto por uma grande quantia de dinheiro para ser usado como arma no exército. E é aí que tudo começa a dar errado.


Começa a dar errado porquê tudo já está errado quando o Pinóquio "nasce". As pessoas são cruéis, gananciosas, manipuladoras e isso pra dizer o mínimo, começando pela esposa do Geppeto que vendo o nariz de metal do robô, tenta usá-lo como vibrador ou sei lá o quê. Daí em diante a história vai se desenrolando e vamos conhecendo uma gama de personagens, um mais filho da puta do que outro e todo mundo ligado pela mesma linha: a própria médiocridade.

Pinóquio não é uma HQ que vai te fazer sentir bem, ela vai mostrar o lado mais podre das pessoas e tem horas que você vai se dar conta que tá fazendo careta, torcendo o nariz, tamanha é a repulsa. Isso é ruim? De maneira alguma. Aliás, a HQ enquanto narra a história de Pinóquio é toda sem falas e aí está o mérito que falei no início, com cenas bem escolhidas e colocadas ela causa o impacto certo no leitor. As únicas falas são da Barata que acaba indo morar dentro da cabeça do pinóquio, uma alusão ao grilo falante, que está desempregada, escrevendo um livro. Auto referência, será?



A história vai seguindo, personagens vão aparecendo, coisas vão acontecendo e você se dá conta que até o próprio Pinóquio é filho da puta. Não pelo que ele faz, mas pelo que ele deixa de fazer, pois quase tudo que acontece decorre da sua não-ação, ele simplesmente observa e é levado por todos sem questionar ou tomar qualquer decisão.

Imaginei que se a história não fosse boa, o trabalho pelo menos era bonito, mas aí está, beleza estética (ao que se propõe) e uma história que era clichê usada muito bem. O trabalho é de um cara que eu não conhecia, um quadrinista francês chamado Vicent Paronnaud, mais conhecido como Winshluss. Fui pesquisar sobre e descobri que ele é o responsável por outra série animada muito premiada chamada Persepólis, essa eu conhecia.

A última HQ que li e me deixou uma coisa muito boa após a leitura, foi Três Sombras, do Cyril Pedrosa, que já falei sobre no Com Limão. Pinóquio, ainda que num caminho diferente e com emoções bem antagônicas, também me fez sentir essas sensações conflituosas, quando a gente é obrigado a encarar algo que não gostamos mas sabemos que está ali, que faz parte de nós mesmos. Acho que esse é um grande mérito quando se faz uma HQ desse tipo ou se escreve um livro: o desafio de fazer o coração do leitor pulsar, seja de ansiedade, medo, felicidade ou porquê não, terror.

Essa HQ é bem cara, digo logo, mas vale o que cobra, sinceramente.
Tem 192 páginas, está sendo distribuída pela Editora Globo e custa em média 75 R$ Reais .

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