terça-feira, 10 de abril de 2012

~ Capítulo 3 ~ Morte Súbita


Fazia muito calor naquela tarde de domingo. Caras sujas e cansadas, muita reclamação, um sol forte e vacas e galinhas atrapalhando tudo completavam o cenário de uma acirrada partida de futebol, que se realizava no campinho improvisado ao lado da estrada.
- Seus moleques! Cuidado com os carros! - Gritava histericamente a avó de um dos marmanjos que ali jogava. Mas não davam tanta atenção à pobre senhora.
Não era apenas um mero joguinho de fim de tarde, pois o prêmio era para todos valiosíssimo. Claro que não chegava a ser uma coroa de folhas de oliveira, digna apenas dos grandes atletas da Grécia antiga ou sequer algum troféu ou medalha, mas sim três quilos de cocada. Os times foram divididos pelas características dos jogadores: Com e sem camisa.
Depois foram pré-estabelecidas as regras da peleja: é obrigatória uma breve pausa quando algum veículo, animal ou senhora invadir o campo; o gol só é valido se a bola passar com um palmo ou menos de altura em relação ao solo. Caso contrário, vai pra fora e é tiro de meta; As traves (feitas com os chinelos dos atletas) devem ter uma distância de 4 passos entre uma e outra; é proibido pôr a mão na bola e depois fugir com ela; Se faz necessário salientar que, também é proibido fazer qualquer tipo de necessidade fisiológica no meio do campo, regra que também se aplica aos animais e as senhoras; Quem der um chutão muito forte na bola vai ter que ir buscá-la, não importando a distância ou a intenção de quem chutou. Então com tudo acertado, o jogo começava.

Estava sendo difícil para ambos. A partida estava se estendendo já por toda a tarde e começando a escurecer. A certa altura (e a certa escuridão também), quando já não se podia mais ver a bola com nitidez, o jogo permanecia no zero a zero, até que alguém gritou:
- Já tá tarde pessoal! Vamos resolver na morte súbita?
Todos concordaram.

Para os menos entendidos no ramo futebolístico, morte súbita, também conhecido como Gol de Ouro, é quando os times decidem o resultado da partida com apenas um gol. Quem fizer primeiro leva tudo.
A idéia foi ótima, pois muitos já não conseguiam parar de pensar no prêmio. A cocada será de quê? De goiaba? De coco? Olha a bola!
Deco, do time dos famintos, digo, dos sem camisa, em certo momento recebeu a bola num passe lindo do meia Aluísio, todo pomposo Deco matou no peito e recuou para o zagueiro com tamanha força e velocidade que só deu tempo de ver a bola entrando e fazendo um belo gol... contra! Felicidade geral para a equipe de camisa. Enquanto os outros comemoravam e degustavam sua vitória, o time sem camisa foi ter com Deco:
- Tinha que ser você mesmo Deco! Agradou!
Ao que ele respondia sem cerimônia:
- Mas o gol da vitória foi de quem? Hem?
- É! Mas a vitória foi deles, Deco! - Insistiam.
E ele:
- Sim, mas foi de quem, hem?
- Foi seu. Mas...
- E então!

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