sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

~ Capítulo 1 ~ A Árvore




Às vezes a gente acorda e fica olhando pro teto, sentindo um pouco de sono, um pouco de preguiça, até finalmente ter que levantar. Lucas naquele dia se sentia diferente, algo aconteceu enquanto ele dormia, mas não sabia o quê. Estendeu a mão para pegar seu relógio em forma de dinossauro e desajeitadamente derrubou-o no chão e no mesmo momento congelou: o que via diante de seus olhos, não era sua mão estirada, era um galho de árvore.

Deu um pulo, mas logo se conteve, para não acordar seu irmão mais velho. O que era aquilo? Simplesmente sua mão tinha se tornado um galho de árvore. Simplesmente. O que você faria nessa situação? Ficar longe do fogo seria sua primeira resolução, certo? A minha também. O pequeno Lucas olhava curioso, nunca tinha ouvido falar de nada parecido, de pessoas que espontaneamente tem partes do corpo transformadas em galhos. Ficou pensando, pensando, olhando admirado e tentando achar alguma solução até que... "Lucas!! Acorda, querido! O café da manhã tá pronto!" gritou sua mãe lá de baixo. Sua cabeça se pôs a pensar mais rápido, o que faria agora? Como ia mostrar isso pra mãe? Como explicar algo que ele também não entendia? Enrolou sua mão que, agora tinha certeza, estava virando um galho maior, com a fronha do travesseiro e passou correndo pela cozinha. Sua mãe mal teve tempo de dizer "E seu café? Eu fiz bolinhos!", mas ele não ouviu.
Correu tanto que seu coração batia forte. Estava tão ansioso por descobrir o que seria aquilo que estava acontecendo com ele, que nem se deu conta do bonito dia que fazia. Lucas tinha um lugar afastado de casa, que ele chamava de seu esconderijo secreto, que de secreto não tinha nada. Era um descampado em forma
de círculo, bem grande, mas que para chegar lá, era preciso pegar atalho entre algumas árvores e um caminho que as pessoas não costumavam mais usar, em meio à mata que havia por trás de sua casa. Chegou lá ofegante e finalmente, num tronco cortado que ficava no centro do descampado, sentou-se. Retomou a respiração calma novamente e por fim desenrolou sua mão.

Lá estava o galho, crescendo mais e mais, seu braço agora criando um aspecto amadeirado. Muitas pessoas ficariam desesperadas, correriam para o médico, mas Lucas não estava sequer assustado, só estava curioso. Ele se pôs a olhar pra sua mão, aquelas pequenas curvas que costumavam ser seus dedos, agora tinham pequenas mudinhas de folhas, uma casca que iam ficando mais grossa e cada vez mais rígida. Não se sabe quanto tempo ele passou ali observando. Uma brisa bateu no seu rosto e mexeu no seu cabelo e foi quando ele se deu conta de como o dia estava bonito. Não havia uma nuvem sequer e podia se ouvir pássaros e o vento balançando os galhos das árvores ao redor. Ele resolveu voltar pra casa. Sentia-se bem, tranquilo e quase tinha esquecido o que vira ao olhar sua mão quando abriu os olhos naquela manhã. Tudo estava bem agora e ele caminhava pra casa de volta, com um sorriso no rosto.

Chegando ao pequeno morro que ficava a alguns metros da sua casa, parou. Não havia mais nada lá, apenas escombros de uma casa, coberta por plantas daninhas e que aparentemente tinha estado ali há muito tempo atrás. Ele suspirou e percebeu o que havia acontecido, esteve tempo demais fora de casa. Pensou na sua mãe e no seu irmão e um sorriso se formou no seu rosto. Sentiu um comichão por todo seu corpo e começou a se coçar freneticamente, até arrancar toda a sua roupa e isso, isso não o incomodava mais. O vento soprou forte no seu rosto e ele sorriu com todas as lembranças boas de sua casa e sua família. Olhou pra cima e fechou seus olhos e de braços abertos, respirando fundo, sentiu o vento que corria ao seu redor. Nunca tinha sentido nada parecido, um bem estar tão grande...

Quando deu por si, um pequeno garoto escalava um de seus braços, tentando alcançar o topo de sua cabeça e isso lhe fazia cócegas. Ao seu redor, a paisagem estava diferente, mas familiar. Via uma casa de tijolos que parecia bonita e aconchegante. Lucas estava em um de seus lugares prediletos. Seu cabelo agora era uma vasta ramagem, seu corpo era forte, seus pés fortes raízes e sempre que o vento passava por ele, ficava feliz e balançava seus galhos, fazendo a alegria do pequeno garoto que ia todos os dias brincar à sua sombra.

2 comentários:

Anônimo at: 24 de fevereiro de 2012 às 09:42 disse...

Como diria David... Ki lindo!!!

Hudson Raniel at: 24 de fevereiro de 2012 às 11:55 disse...

Muito bom. Bela homenagem. A história de um Ent?

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